Coturno de Vênus realiza Lesbocenso de Lésbicas e Sapatonas do Distrito Federal

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A associação lesbofeminista de Brasília, Coturno de Vênus, realizou o Lesbocenso, um mapeamento de lésbicas e sapatonas do Distrito Federal. A pesquisa que começou a ser realizada em 2018, através de um formulário eletrônico, coletou informações censitárias com dados sobre raça/etnia, emprego, religião, acesso à saúde, índices de violência, entre outros, sobre a população lésbica […]

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A associação lesbofeminista de Brasília, Coturno de Vênus, realizou o Lesbocenso, um mapeamento de lésbicas e sapatonas do Distrito Federal. A pesquisa que começou a ser realizada em 2018, através de um formulário eletrônico, coletou informações censitárias com dados sobre raça/etnia, emprego, religião, acesso à saúde, índices de violência, entre outros, sobre a população lésbica da região. O projeto que contou com apoio do Fundo Elas, foi lançado este ano e está disponível no site: bit.ly/lesbocenso. A metodologia de elaboração dos questionários se deu através dos encontros “Lesbopolitizar”, ocorridos em 2018 e 2019, que através de diálogos e rodas de conversa presenciais, reuniu diversas organizações lésbicas do Distrito Federal.

O documento frisa a relevância do mapeamento para a elaboração de políticas públicas para a população lésbica, uma vez que através da lesbofobia estrutural e institucional, o Estado se desresponsabiliza e delega as organizações da sociedade civil a produção desses dados. Por isso, o Lesbocenso foi realizado através de uma perspectiva colaborativa, com a contribuição de coletivas lésbicas locais para formação de redes que agreguem as diferentes experiências, olhares e que até mesmo nas diferenças possam integrar suas identidades plurais. Como o Distrito Federal é uma região com pessoas de diversos locais do Brasil, a perspectiva colaborativa propiciou o fortalecimento de uma rede territorial de mulheres lésbicas e sapatonas.

 Segundo o Lesbocenso, 1.353 pessoas responderam o questionário, destas, 968 respostas estavam dentro do espectro do mapeamento. A maior parte das participantes se concentra na faixa de 19 a 29 anos, o que propôs uma reflexão sobre a ausência de mulheres lésbicas de outras gerações e sobre como estas inserem a afirmação de suas lesbianidades na vida cotidiana. Sobre auto identificação, 60% se identificaram como lésbicas e 30% como sapatão, sendo perceptível como os fatores interseccionais como raça, classe, território, formam as identidades afetivas sexuais.

Nesse sentido, no quesito raça/etnia, observou-se que, territorialmente, as lésbicas/sapatonas brancas se concentram nas áreas centrais do Distrito Federal e as negras habitam mais as áreas periféricas. A pesquisa registrou 57% de lésbicas brancas respondentes e 25% de negras. Contudo, foi ressaltado no documento que durante os encontros “Lesbopolitizar” decidiu-se não incluir a denominação parda no questionário, para justamente provocar debates sobre autodeclaração e, assim, subsidiar projetos e ações voltadas para a questão da identidade racial.

Um diferencial apresentado nesta pesquisa foi a sondagem das mulheres lésbicas assumidas perante a sociedade e em seus espaços de convívio. Diferentemente de se reconhecer como lésbica, assumir-se lésbica “refere-se à possibilidade de expressar e de experenciar sua orientação sexual livremente em seus espaços de convívio”, conforme define o documento. De acordo com o Lesbocenso, mais uma vez a questão territorial impacta na performance das lesbianidades. Pois, 67% das lésbicas e sapatonas assumidas em todos os espaços de convívio vivem na região do plano piloto do Distrito Federal, enquanto, 32% que se assumem em alguns lugares de convívio vivem nas regiões periféricas.

No eixo violência lesbofóbica, os dados confirmam o lesbocídio como uma violência velada que invisibiliza e desconsidera a existência de mulheres lésbicas na sociedade. A negligência diante da violência e do preconceito contra mulheres lésbicas, por muitas vezes, oculta a real causa de assassinatos e de outros tipos de violência, como a doméstica e a psicológica. Dados do Lesbocenso confirmam esses padrões: 78% revelam o assédio moral como a violência lesbofóbica mais constante em suas vidas. Desse modo, os principais agentes da violência fazem parte do convívio próximo, como amigos e família (58%) que muitas vezes as rejeitam e/ou expulsam de casa. No entanto, o documento ressalta que os espaços públicos não são seguros para lésbica e sapatonas, já que 29% dos agentes de violência são pessoas desconhecidas.

Finalizando a pesquisa, o Lesbocenso destaca desafios percebidos através das análises dos dados e que precisam ser desenvolvidos para fortalecer e fomentar o debate entre as diversas coletivas lésbicas e sapatonas do país. Dentre os quais, destacam-se: o acesso de qualidade à saúde, visto que os atendimentos ginecológicos são voltados para o padrão cisheteronormativo; Educação, observaram a necessidade de ampliar a pesquisa para diversas escolaridades, já que a maior parte das respondentes eram de nível superior (85%); Violência lesbofóbica, o desafio é cruzar os dados existentes com dados de segurança pública, além de pensar em novas formas de acolhimento dessas mulheres; e Lesbofobia e envelhecimento, uma vez que essa pauta precisa ser pensada nas diversas dimensões que vão desde à saúde mental e sexual, solidão, empregabilidade, entre outras.

Conforme apontado pela Coturno de Vênus no documento, “O projeto Lesbocenso incluindo sua fase de elaboração com o encontro Lesbopolitizar, oportunizou aprendizados importantes. Acreditamos que foi um processo pedagógico de construção coletiva de dados que oportunizou visualizar demandas, mas também apontou lacunas acerca de questões que precisam ser ajustadas às nossas práticas lesbofeministas”.

Deste modo, Raça e Igualdade busca apoiar projetos que fortaleçam narrativas e existências invisibilizadas socialmente e que, além disso, defendam os direitos e a dignidade de mulheres lésbicas e sapatonas sem discriminação. Assim, Raça e Igualdade recomenda ao Estado brasileiro que:

1 – Crie e instaure políticas de segurança pública que visem combater o lesbocídio de forma a visibilizar as particularidades desse tipo de violência contra mulheres lésbicas;

2- Promova ações e campanhas para combater a lesbofobia a fim de suprimir a desinformação e o preconceito que reproduzem a marginalização das mulheres lésbicas;

3 – Implemente uma política nacional de saúde que atenda as especificidades da população LGBTI, neste caso, especificamente, as demandas da população lésbica.

 

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