Guilherme Dias Santos Ferreira, mais uma vítima do racismo sistêmico e da violência do Estado no Brasil
Rio de Janeiro, 9 de julho de 2025.– O Instituto Internacional sobre Raça, Igualdade e Direitos Humanos manifesta profundo pesar e solidariedade à família e aos amigos de Guilherme Dias […]

Rio de Janeiro, 9 de julho de 2025.– O Instituto Internacional sobre Raça, Igualdade e Direitos Humanos manifesta profundo pesar e solidariedade à família e aos amigos de Guilherme Dias Santos Ferreira, jovem marceneiro negro de 26 anos, brutalmente assassinado com um tiro na cabeça por um policial militar de folga, no dia 4 de julho de 2025, no bairro de Parelheiros, Zona Sul de São Paulo.[1]
Essa tragédia não é um caso isolado: é reflexo da atual realidade da segurança pública no Estado de São Paulo, sob a gestão do governador Tarcísio de Freitas e do secretário de segurança pública Guilherme Derrite, no qual as mortes cometidas por policiais explodiram.
Em 2024, a Polícia Militar matou 737 pessoas no estado, representando um aumento de 60% em relação ao ano anterior.[2] No primeiro ano do governo Tarcísio, em 2023, já havia sido registrado um aumento de 98% das mortes por policiais, totalizando 406 vítimas entre janeiro e novembro. Os dados são do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público de São Paulo (GAESP-MPSP).[3]
O caso de Guilherme revela o racismo estrutural que fundamenta a atuação das forças de segurança pública no Brasil e aprofunda a desigualdade racial nas periferias urbanas, parafraseando aqui o Dr. Hédio Silva Júnior: “Não há comoção social quando jovens pretos são chacinados nas periferias do Brasil.“
Nesse contexto, destaque-se aqui o Relatório sobre Justiça Racial na Aplicação da Lei, divulgado em 2024 com as conclusões do Mecanismo Internacional de Especialistas Independentes para o Avanço da Igualdade e Justiça Racial na Aplicação da Lei (EMLER, na sigla em inglês), conforme a Resolução 47/21[4] do Conselho de Direitos Humanos da ONU, após visita ao Brasil entre 27 de novembro e 8 de dezembro de 2023 em cidades como Brasília, Salvador, Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro.[5]
O relatório do EMLER, destaca alguns números e alerta:
“O Mecanismo está alarmado com os números e as circunstâncias nas quais as pessoas são assassinadas pela polícia no Brasil. Nos últimos dez anos, 54.175 pessoas foram mortas por policiais no país, com mais de 6.000 indivíduos mortos todos os anos (17 todos os dias) nos últimos seis anos. As mortes causadas pela polícia aumentaram significativamente de 2.212 em 2013 para 6.393 em 2023. O dado mais recente representa 13% do total de mortes violentas intencionais no país. Das 6.393 pessoas mortas pela polícia em 2023, 99,3% eram homens; 6,7% crianças entre 12 e 17 anos; e 65% eram jovens adultos: 41% tinham entre 18 e 24 anos e 23,5% entre 25 e 29 anos.’’[6]
Os dados expressam que o perfilamento racial é uma realidade de há muitos anos, sendo os mais afetados são jovens afrodescendentes que vivem em áreas empobrecidas. O assassinato de Guilherme evidencia que o racismo segue sendo um pilar estruturante das ações policiais no Brasil e urge a necessidade de mudança nos procedimentos e políticas de segurança pública, sob risco de que outros jovens inocentes, como Guilherme, continuem sendo assassinados nas periferias e reduzidos a meros números nas estatísticas da violência de Estado.
[1] G1. “Só porque é um jovem negro, preto e estava correndo para pegar o ônibus”, diz esposa do homem morto por PM com tiro na cabeça por engano. São Paulo, 7 jul. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/07/07/so-porque-e-um-jovem-negro-preto-e-estava-correndo-para-pegar-o-onibus-diz-esposa-do-homem-morto-por-pm-com-tiro-na-cabeca-por-engano.ghtml. Acesso em: 9 jul. 2025.
[2] BRASIL DE FATO. Com Tarcísio e Derrite, PM de São Paulo matou 737 pessoas em 2024, 60% a mais do que no ano anterior. São Paulo, 7 jan. 2025. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2025/01/07/com-tarcisio-e-derrite-pm-de-sao-paulo-matou-737-pessoas-em-2024-60-a-mais-do-que-no-ano-anterior/. Acesso em: 9 jul. 2025.
[3] CNN BRASIL. Com Tarcísio e Derrite, mortes por PMs aumentaram 98% em SP. São Paulo, 4 dez. 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/com-tarcisio-e-derrite-mortes-por-pms-aumentaram-98-em-sp/. Acesso em: 9 jul. 2025.
[4] UNITED NATIONS. Human Rights Council. Resolution 47/21: Promotion and protection of the human rights and fundamental freedoms of Africans and of people of African descent against excessive use of force and other human rights violations by law enforcement officers through transformative change for racial justice and equality. Genebra, 13 jul. 2021. Disponível em: https://documents.un.org/doc/undoc/gen/g21/199/03/pdf/g2119903.pdf. Acesso em: 9 jul. 2025.
[5] NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Especialistas independentes da ONU avaliam justiça racial no contexto da aplicação da lei em visita ao Brasil. Brasília, 24 nov. 2023. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/253777-especialistas-independentes-da-onu-avaliam-justi%C3%A7a-racial-no-contexto-da-aplica%C3%A7%C3%A3o-da-lei-em. Acesso em: 9 jul. 2025.
[6] NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Brasil: Relatório sobre Justiça Racial na Aplicação da Lei. Brasília, 1º out. 2024. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/280159-brasil-relat%C3%B3rio-sobre-justi%C3%A7a-racial-na-aplica%C3%A7%C3%A3o-da-lei. Acesso em: 9 jul. 2025.