Inauguração da Escola de Formação Política Kátia Tapety reúne matriarcas trans e lideranças do movimento negro, indígena e LGBTI+ no MAM-RJ

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Brasil, 10 de junho de 2022 – O evento de lançamento da Escola de Formação Política Kátia Tapety, promovido pelo Instituto Internacional sobre Raça, Igualdade e Direitos Humanos (Raça e Igualdade), realizou um intento há muito aspirado pela comunidade e organizações LGBTI+: reuniu matriarcas do movimento trans e lideranças do movimento negro, indígena e LGBTI+ […]

Inauguração Escola de Formação Política Kátia Tapety

Brasil, 10 de junho de 2022 – O evento de lançamento da Escola de Formação Política Kátia Tapety, promovido pelo Instituto Internacional sobre Raça, Igualdade e Direitos Humanos (Raça e Igualdade), realizou um intento há muito aspirado pela comunidade e organizações LGBTI+: reuniu matriarcas do movimento trans e lideranças do movimento negro, indígena e LGBTI+ do país. Realizado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), no dia 10 de maio, o evento representou o pontapé inicial do projeto de Formação Política para Mulheres LBTI, patrocinado pela Open Society Foundation, do qual a Escola representa uma das ações que envolve a capacitação pedagógica e de fortalecimento democrático diante do aumento da violência política e eleitoral de gênero e raça no país. [1] e [2]

No painel de abertura, Carlos Quesada, Diretor Executivo de Raça e Igualdade, agradeceu as organizações parceiras do projeto: Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA); Articulação Brasileira de Lésbicas (Rede ABL) e Rede Nacional de Negras e Negros LGBT (Rede Afro LGBT), ressaltando a missão institucional de Raça e Igualdade de fortalecimento das organizações de base para que se tornem atores políticos e promovam mudanças estruturais em seus países. Nesse sentido, no que concerne ao futuro do projeto, Quesada destacou que “a perspectiva é ter não somente lideranças negras, trans, lésbicas ou bissexuais fortes no Brasil, mas que as vozes delas possam ser ouvidas, não só pela população LGBTI+, mas por toda população do país.”

Mediado por Mariah Rafaela Silva, Oficial de Participação Política de Raça e Igualdade, o evento contou com duas mesas de debates: ‘Trajetórias coletivas para a participação política de mulheres negras, indígenas e LBTI’, com a participação de Rosângela Castro, representante da Rede Afro LGBT, Bruna Benevides, Secretária Nacional de Articulação Política da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) e Michele Seixas, Coordenadora da Articulação Brasileira de Lésbicas (Rede ABL); na segunda mesa ‘Articulações e estratégias de mulheres negras, indígenas e LBTI para o fortalecimento da democracia no Brasil’, participaram Kátia Tapety , primeira vereadora trans negra do Brasil; Samara Pataxó, assessora jurídica da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e responsável pelo Núcleo de Inclusão e Diversidade da Secretaria-Geral da Presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE); Roberta Eugênio, advogada e pesquisadora do Instituto Alziras, e Keila Simpson, Presidenta da ANTRA.

 

“Mais do que um projeto, nosso objetivo é de proporcionar transformação social através da participação política de mulheres LBTI no processo eleitoral e fortalecendo a democracia, teremos mais parâmetros e ferramentas para melhorar as políticas de Direitos Humanos”, frisou Mariah Silva.

 

Realizado por Raça e Igualdade, o evento contou com uma apresentação especial; um curta documental sobre a memória e história de Kátia Tapety na política brasileira. Intitulado “Kátia Tapety – O Legado da Democracia” [2], o filme além de narrar as encruzilhadas da trajetória política desta grande liderança do movimento trans negro, busca fazer uma homenagem em vida, pelo reconhecimento da sua contribuição para o fortalecimento do processo democrático. Eleita pela primeira vez em 1992, como vereadora pela cidade de Colônia do Piauí, Kátia transpôs barreiras e consolidou uma importante carreira política. Desse modo, o curta metragem manifesta-se como uma declaração de potência e empoderamento de mulheres para que sigam lutando pela democracia, para que possam ocupar espaços de poder e, assim como Kátia Tapety, escrevam seus nomes nas casas legislativas do país.

 

“Agradeço muito ao povo negro de minha cidade. Pois fui eleita vereadora por três mandatos, fui vice-prefeita e hoje sou Presidente de uma instituição mais antiga no Piauí, que é a MOPAC [3]; e sou conselheira estadual na capital do Piauí. Sou conselheira através de voto! Fui eleita no sertão de Cabra Macho,” comemora Kátia Tapety.

 

Mulheres unidas pela democracia

 Com a participação de importantes referências no enfrentamento do racismo, LGBTIfobia e misoginia institucional e estrutural, os painéis de debate abriram a aula inaugural da Escola de Formação Política Kátia Tapety. Na plateia, matriarcas do movimento trans como Jonanna Baby – que participou do filme em homenagem à Kátia – e Indianarae Siqueira, Presidente da Casa Nem, marcaram presença para prestigiar um palco de mulheres negras e LBTI que constroem ativamente perspectivas plurais para um futuro em que haja garantia e proteção dos direitos humanos. Compartilhamos alguns trechos dessas falas potentes que marcaram o evento de lançamento:

 

“A construção de uma Escola que reúne travestis, mulheres trans e lésbicas novamente com o que foi feito há 30 anos, é uma resposta legítima para o que nós não vamos mais aceitar que é a invisibilização dessas pessoas que ainda seguem silenciadas sobretudo na política e sub-representadas dentro do movimento LGBTI”. Bruna Benevides – ANTRA

 

“Existia racismo dentro do movimento LGBTI, como existia LGBTIfobia dentro do movimento negro e hoje a gente consegue caminhar em paz. Agradeço a Raça e Igualdade essa oportunidade de estarmos construindo juntas essa Escola de Formação Política (…) quantos enfrentamentos nós lésbicas e a comunidade de travestis passamos juntas e como isso nos torna irmãs”. Rosângela Castro – Rede Afro LGBT

 

“Chegou a hora do movimento LBT ser protagonista! Nós somos a nossa própria narrativa. Meu corpo é político. Eu não admito que ninguém fale por mim! (…) Agradeço a presença das sapatonas mais velhas, porque sem elas eu não estava aqui. Eu só estou dando continuidade ao que elas plantaram lá atrás e tenho muito orgulho de estar ao lado delas nessa caminhada”. Michele Seixas – ABL

 

“Recebi um convite do Ministro Edson Fachin [4] para implantar um Núcleo de Inclusão e Diversidade no TSE(…) É um desafio falar sobre esses temas dentro de um sistema excludente, majoritariamente branco e de homens. Eu costumo dizer, o que aprendi com os meus, que a gente não constrói uma casa pelo teto e sim pelos alicerces”. Samara Pataxó – APIB

 

“A formação política é algo que vai permanecer para nossas vidas futuras. Se a gente tivesse essa formação lá em 1992, desde a primeira vez que a Kátia foi eleita, provavelmente haveria tantas outras travestis na política. Foi preciso passar anos para gente sacar que a nossa salvação seria a política partidária. Porque política a gente faz desde que coloca o peito para fora de casa (…) Eu tenho dito sempre: nós não vamos voltar para às margens”. Keila Simpson – ANTRA

 

“O Instituto Alziras desenvolveu uma pesquisa “O Perfil das Prefeitas no Brasil” [5] que comprova a manutenção da sub-representação (…), sendo as mulheres negras representam apenas 4% das prefeitas eleitas e governam apenas para 3% da população brasileira. Isso significa que a representação ainda está impossibilitada, porque se essas mulheres governam apenas para essa parcela da população e nos menores municípios, que são os mais empobrecidos, nós estamos falando que além de sub-representadas, as mulheres ainda passam pelas maiores dificuldades para se manter na política”. Roberta Eugênio – Instituto Alziras

 

Após a apresentação das mesas, o evento contou com as apresentações artísticas da poeta Ludmila Lins e da cantora Dayo, além de um coquetel para celebrar o novo passo de Raça e Igualdade junto as organizações da sociedade civil pela garantia da participação de mulheres na esfera política e de uma democracia inclusiva. A capacitação de lideranças sociais femininas acontece de maio a setembro, através de aulas híbridas e tem o apoio da Open Society Foundations e da parceria com a Fundação Friedrich Ebert no Brasil.

 

 

 

[1] Assista a transmissão ao vivo do evento no canal de YouTube de Raça e Igualdade: https://bit.ly/3H1Hr8A

[2] Assista a cobertura do evento realizada pelo CULTNE: https://bit.ly/397s4zf

[2] Curta metragem em breve disponível no canal de YouTube de Raça e Igualdade.

[3] Movimento Piauiense de Assistência à Cidadania LGBT

[4] Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)

[5] Acesse a pesquisa pelo link: http://prefeitas.institutoalziras.org.br/

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