Mês da Visibilidade Lésbica: I Viradão Sapatão do Complexo do Alemão reúne lésbicas do Rio de Janeiro

Brasil PT

Brasil, 19 de agosto de 2022 – Para comemorar o Mês da Visibilidade Lésbica no Brasil, nos dias 12 e 13 de agosto, o Instituto Brasileiro de Lésbicas (IBL) junto a diversos coletivos de lésbicas do Rio de Janeiro, realizou o I Viradão Sapatão do Complexo Alemão, situado na Zona Norte da cidade. Ademais, o […]

Orgulho Lésbico 2022 - Brasil

Brasil, 19 de agosto de 2022 – Para comemorar o Mês da Visibilidade Lésbica no Brasil, nos dias 12 e 13 de agosto, o Instituto Brasileiro de Lésbicas (IBL) junto a diversos coletivos de lésbicas do Rio de Janeiro, realizou o I Viradão Sapatão do Complexo Alemão, situado na Zona Norte da cidade. Ademais, o encontro agregou mais dois importantes eventos da comunidade lésbica: o I Encontro de Lésbicas do Estado do Rio de Janeiro (ENLES) e a III Visibilidade Lésbica do Alemão. Após o período de isolamento pandêmico, esses eventos marcaram o retorno das atividades presenciais com intuito de visibilizar o legado do movimento de lésbicas através de mesas de debates e intervenções político-culturais.

Unindo-se as celebrações que marcam as festividades lésbicas neste mês de agosto, o Instituto Internacional sobre Raça, Igualdade e Direitos Humanos (Raça e Igualdade), rememora o porquê os dias 19 de agosto, Dia do Orgulho Lésbico, e o dia 29 de agosto, Dia da Visibilidade Lésbica, são marcos importantes para o movimento. A primeira data faz referência ao ano de 1983, quando militantes do Grupo Ação Lésbica Feminista (Galf) ocuparam o Ferro’s Bar, em São Paulo, após serem expulsas do local por tentarem distribuir um boletim de publicação própria chamado “ChanacomChana”. A ação ficou conhecida como o “Stonewall brasileiro”, em alusão a manifestação ocorrida em Nova York, em junho de 1969, na qual a população LBGTI+ também se manifestou contra as violências sofridas e pelo reconhecimento dos seus direitos. [1]

Já o dia 29 de agosto, corresponde ao I Seminário Nacional de Lésbicas (Senale), em 1996, no Rio de Janeiro, que buscou tratar das diversas opressões relativas ao gênero e a sexualidade, tanto às violações dos direitos das mulheres como as questões de representatividade e visibilidade da comunidade lésbica. [2]. Em mãos dessa breve contextualização histórica, Raça e Igualdade esteve presente no ‘I Viradão Sapatão do Complexo do Alemão’ e conversou com lideranças e ativistas do movimento lésbico sobre os atravessamentos e direitos da comunidade lésbica no Brasil.

Para Michelle Seixas, Diretora Geral do IBL, Coordenadora Política Nacional da Articulação Brasileira de Lésbicas (ABL) e uma das organizadoras do Viradão Sapatão, a importância de realizar um evento para mulheres lésbicas em um território de favelas, está em marcar seus pertencimentos territoriais para reafirmar que sim, existem mulheres lésbicas pautando suas existências dentro de suas comunidades. “É preciso que as pessoas tenham a consciência de que o ‘L’ tem que estar na frente verdadeiramente, e não somente uma letra que compõe a sigla LGBT”, enfatiza.

Através de seu ativismo pelos direitos das mulheres lésbica, Michelle Seixas ressalta a importância de as lésbicas ocuparem diversos espaços, inclusive os espaços de poder, uma vez que vivemos numa disputa de narrativas e o intuito é que suas vozes ressoem além de seus espaços privados. “Eu falo sobre o que é ser lésbica em qualquer lugar, inclusive nos espaços acadêmicos, porque eu também sou uma lésbica pesquisadora e é importante que a gente produza cada vez mais dados sobre nós. Isso contribui para que tenhamos visibilidade e sejamos ouvidas”.

“Apesar de todo retrocesso político, os parceiros olharam para a gente com um olhar mais sensível, como o Instituto Raça e Igualdade, que veio contribuir com o nosso primeiro financiamento internacional. Geralmente, a gente não escuta falar que grupo de lésbicas recebem financiamento internacional, né? Outras letras (da sigla LGBT) já alcançaram esse lugar, mas para a gente que faz parte do movimento lésbico está sendo inédito e muito importante” (Michelle Seixas – IBL e ABL)

 Responsável por diversas intervenções artísticas do Viradão Sapatão, a atriz, produtora e ativista cultural Nilda Andrade, possui um grupo de teatro no Complexo do Alemão e compartilhou que sua inserção na militância a ajudou a entender seus direitos como mulher lésbica e os limites que precisam ser impostos para que não sofram com estigmas e violações de seus corpos e direitos. Assim, Nilda enfatiza a importância desses encontros e rodas de conversas, para que as mulheres lésbicas aprendam a se proteger e reafirmarem seus direitos.

 “A importância é essa da gente se reafirmar, né? Enquanto mulher lésbica no nosso território de favela tivemos que nos esconder por muito tempo, e agora não mais, olha só a gente aqui pautando os nossos direitos. E isso não é um pedido. Como eu falei, a gente não tem que pedir para as pessoas nos aceitarem, pois é apenas o respeito que a gente busca, né? E essas rodas empoderam mais a gente de território de favelas sim, como nós nos enxergamos e como nosso corpo é lido dentro da favela como uma mulher lésbica” (Nilda Andrade – Produtora Cultural)

Nilda relata que já sofreu lesbofobia duas vezes e denuncia a fetichização das mulheres lésbicas, e a partir das suas vivências aponta que o respeito pelas mulheres lésbicas precisa ser reforçado como uma atitude educacional a todo momento. Desse modo, ela deixa uma mensagem para as mulheres lésbicas que foi muito importante em seu reconhecimento e empoderamento como mulher lésbica: “só o que a gente sente explica o que a gente faz.”

Mulher negra oriunda de território de favelas de Salvador, Altamira Simões é Coordenadora da Candaces – Rede Nacional de Lésbicas e Bissexuais Negras Feministas, e foi uma das participantes da roda de conversa sobre saúde lésbica. Altamira traz à tona as implicações psíquicas do racismo para as mulheres negras de favelas e ressalta que o dia 29 de agosto é um marco de luta por conta de todas as violências que as mulheres lésbicas sofrem devido ao machismo patriarcal e, com isso, as mulheres que amam e sentem prazer com outras mulheres são alvos direto desses marcadores de violência e poder. Ao abordar a necessidade de políticas públicas que contemplem mulheres lésbicas idosas, Altamira Simões refere-se à Heliana Hemetério, Articuladora Nacional da Candaces e uma das fundadoras da Rede, que atualmente possui 70 anos e reforça a importância deste debate etário sobre as lésbicas.

“Um dos debates que ela traz é apresentar para a sociedade que as mulheres a partir dos 50 anos também sentem prazer sexual e mantêm relações sexuais, porque não estão mortas. Essa negação também é uma forma de crise ideológica dessa sociedade extremamente machista que invisibiliza essas mulheres e, principalmente, sendo mulher lésbica, né? A sociedade patriarcal não aceita que mulheres sintam prazeres com outras mulheres. Porque o que predomina é essa vivência falocêntrica. Então, hoje debatemos que a mulher lésbica madura precisa ter uma política de específica de saúde para esses corpos que estão envelhecendo”. (Altamira Simões – Candaces)

A Coordenadora da Candaces complementa seu argumento, tendo em conta que uma vez que essas mulheres chegam na terceira idade, além de terem seus desejos apagados, suas identidades também são apagadas. Por isso, é fundamental que visibilizem suas existências e não inseri-las em asilos imaginários e asilos sociais, porque esse é o atual destino das mulheres lésbicas de terceira idade. “O isolamento leva a muitas mulheres a desenvolverem sofrimento psíquico, uma vez que já não se relacionam mais com outras mulheres, sobretudo as mulheres negras. A sociedade termina empurrando essas pessoas para um mundo e um espaço em que a política não chega, e o que chega é o sofrimento e o adoecimento”, alerta.

Raça e Igualdade saúda eventos que prestigiam, fortalecem e pautam os direitos de mulheres lésbicas em todo o Brasil, recordando que a agenda por direitos de mulheres LBT deve ser visibilizada durante todo o ano, e que o Orgulho e a Visibilidade Lésbica sejam datas comemorativas em que possam ir além do compartilhamento de dores e violações psíquicas e físicas. Casos como suicídio, estupros corretivos e terapias de conversão são uma realidade constante da população lésbica e, para isso, unimo-nos as lutas destas mulheres para denunciar e pleitear por políticas reparatórias e antidiscriminatórias. Assim, finalizamos com a mensagem de Altamira Simões para celebrar o Mês da Visibilidade Lésbica: “Que a gente se junte em qualquer canto desse país no Mês da Visibilidade Lésbica, porque onde estiver duas ou três lésbicas reunidas, estamos fazendo revolução!”

[1] e [2] http://oldrace.wp/es/brazil-es/dia-nacional-da-visibilidade-lesbica-e-sua-potencia-na-luta-pela-representatividade/

Junte-se aos nossos esforços

Apoie o empoderamento de indivíduos e comunidades para alcançar mudanças estruturais na América Latina.